Um novo dispositivo está por vir, sua carteira virtual física

Há aproximadamente 2 anos eu estava trabalhando bastante com Bitcoin e aprofundei meus estudos sobre moedas criptográficas. Comecei a vislumbrar o desencadeamento que tal novidade traria para o nosso dia-a-dia e tive um insight de um produto que eu ainda acredito que irá existir.

Essa não é a primeira vez que isso acontece. Em 2006 dirigindo meu carro e percebendo uma situação com um motoqueiro, tive a ideia de um comunicador bluetooth que não existia na época em nenhum lugar do mundo. O post fez sucesso e diversas pessoas pediram o aparelho. Hoje já existem algumas opções no mercado e semana passada eu até vi um no capacete de um amigo meu.

Estava eu numa tarde de domingo, em Búzios, lendo o livro Digital Bank e lembrei dos meus estudos de 2 anos atrás sobre Bitcoin, que me remeteu à ideia do produto que tive na época, e resolvi então escrevê-la neste post.

Basicamente, o que eu conclui na ocasião dos estudos sobre moedas criptográficas é que, assim como praticamente tudo no mundo, o dinheiro também será digital no futuro. Essa é uma discussão que dá pano pra manga. Nas vezes que fui falar com pessoas sobre isso a conversa foi polêmica.

O principal argumento contra essa ideia é de que todo o dinheiro no mundo tem lastro em bens fisicos. Essa história é a maior besteira ao meu ver, porque se fosse por isso, os Estados Unidos não imprimiriam dólar a torto e a direito como fazem. Além disso, o mundo digital existe e tem valor, e o que a maioria das pessoas não entendeu é que ele é complementar ao mundo físico e também tem ativos de valor que podem servir de lastro para qualquer moeda.

Outra coisa que poucas pessoas sabem é que a criação do Bitcoin introduziu no mundo o conceito de moedas criptográficas (em inglês, cryptocurrency). Quando você ouve falar que os bancos e os governos estão com medo do Bitcoin, na verdade eles não estão com medo da moeda Bitcoin, mas do conceito de cryptocurrency que surgiu com o Bitcoin.

Esse conceito viabilizou a criação de outras moedas, tais como Litecoin, Namecoin, Peercoin, Primecoin, Ripple, etc. Hoje em dia existem mais de 500 novas moedas criptográficas ativas e disponíveis para compra e venda online, de um total que já está próximo a 1.000 moedas criptográficas no mundo. Todas elas criadas nos últimos 3 anos. Perceba a dimensão desse novo conceito.

Reduzindo bastante e simplificando ao máximo, vou explicar como funciona.

Para cada moeda criptográfica existe uma base de dados compartilhada entre todos os usuários, com várias carteiras representadas por números e com a quantia da moeda que cada carteira possui.

Para você poder usar o seu dinheiro, você precisa provar que determinada carteira é sua e isso se dá por meio de um arquivo que você armazena no seu computador cujo conteúdo é um código que quando passado por uma rotina de criptografia confirma que a carteira é sua.

Essa minha explicação é extremamente simplista só pra ilustrar que no final das contas a sua carteira virtual é representada por um conteúdo de texto que fica armazenado em um arquivo no seu computador.

Eu concluí que quanto mais as moedas criptográficas são difundidas, menos usaremos as cédulas de papel, menos usaremos os cartões de crédito e débito e menos precisaremos de uma carteira convencional, a de couro que guarda as nossas cédulas, cartões e documentos.

Eu imaginei um dispositivo, que não seria o celular, específico para carregar o nosso dinheiro virtual, nas diferentes moedas que estaríamos usando. Explico.

A sua carteira sendo virtual, você precisa armazenar o arquivo da sua carteira da moeda criptográfica em um dispositivo eletrônico e para utilizar o dinheiro presente nessa carteira virtual você precisa de um software.

Hoje as pessoas deixam suas carteiras virtuais no seu computador, ou em alguns casos no pendrive e usam softwares desktop para usar o dinheiro. Começaram a surgir alguns aplicativos para armazenar a carteira no celular e usar o dinheiro pelo próprio aplicativo também. Mas eu não acredito que vai permanecer assim.

E por que o celular não seria a solução final?

Muito simples, pelo mesmo motivo que o celular vem substituindo os computadores desktop. Porque o computador é over para algumas tarefas que podem ser feitas apenas com o celular.

Bem como o celular é demais para funcionar como nossa carteira virtual. Basicamente por questões de tamanho, propósito e segurança. Fisicamente ele é muito grande para estar conosco em todos os momentos que precisamos usar o dinheiro. A segurança do smartphone nunca vai ser do nível que um dispositivo cujo objetivo único é armazenar seu dinheiro, simplesmente porque o smartphone precisa funcionar para todo o resto.

Imagine um dispositivo que seja pequeno o suficiente para você carregar sempre com você. Até mesmo quando está indo para a praia sem sua bolsa ou sua carteira. Imagina que esse dispositivo só funcione com a sua digital, que possa ser bloqueado remotamente a qualquer momento e que tenha todos os recursos de segurança específicos para garantir que ninguém além de você poderá usar o dinheiro. Imagina também que ao encostar um dispositivo no outro você possa transferir dinheiro de uma carteira para a outra, sem necessidade de pagar taxas nem tarifas para bancos, nem adquirentes como Visa/Redecard etc.

Seria ter os benefícios do dinheiro vivo, sem os custos transacionais que existem hoje e com mais segurança e comodidade.

Na ocasião que tive esse insight, cheguei a comentar com alguns amigos mais próximos. Um deles foi o Vinicius Braga, amigo de longa data e designer de produto. Quando falei sobre a ideia desse produto, comentei que eu pensava algo similar ao sistema de transferência de tempo da ficção O Preço do Amanhã, que BTW é um excelente filme!

O Vinicius entendeu a ideia e dias depois da nossa conversa, mas precisamente em 30/09/2013 me mandou um email com essa imagem e com a justificativa:

Nos dois dias seguintes fiquei pensando sobre o que você falou e tive algumas ideias conceituais.

A principal seria o SINETE (https://en.wikipedia.org/wiki/Seal_%28emblem%29.

Na minha cabeça, seria tipo um pendente em que você poderia guardar o valor que fosse.

Teria um micro visor, o suficiente para existir os valores que iria guardar, e mais, não seria limitado numa moeda específica.

Porque uma das coisas que pensei, seria o fato de inserir ou posicionar,

como se fosse esses plugs macho e fêmea. Enfim, precisava compartilhar isto contigo.

Sensacional!

Já tínhamos ali o primeiro passo do conceito deste produto. Na ocasião eu me empolguei de fazer um protótipo, mas não tinha dinheiro nem tempo para focar nisso. Essa ideia ficou adormecida até hoje quando resolvi compartilhá-la aqui.

Hoje vivemos a era pós-PC, mas esse dispositivo seria a realidade de uma era pós-Smartphone onde dispositivos cada vez menores possuem sistemas operacionais e aplicativos próprios e estão conectados à internet. O Apple Watch é um exemplo disso.

Embora eu tenha essa visão de produto, não sei se já temos todo conhecimento e capacidade de desenvolvê-lo hoje. Pode ser que para isso tudo acontecer, “coisas novas” como o IPv6, Redes Mesh e Computação Soberana precisem se difundir no mundo.

Pois bem, é assim que eu enxergo o futuro, o que você acha? Parece muita loucura ou faz sentido pra você? Deixe suas impressões nos comentários!

Abraços e até a próxima.